quarta-feira, 15 de maio de 2013

Somos Requalificação. Somos Revitalização. Somos Readaptação.

Observar Gondar com o meu olhar é observar, inequivocamente o seu património. Guardo, com certeza, outros olhares sobre esta terra - doces reminiscências da minha história pessoal e familiar, mas guardo sobretudo um olhar de saudade sepultado para sempre nesta terra de barro preto, o que me faz voltar ao início desta minha conversa.
Falar da riqueza patrimonial de Gondar é referir, logicamente, dois importantes níveis: o natural e o construído. A paisagem natural desta freguesia é soberba e variada, não dando azo a qualquer monotonia visual. Aqui ela se encosta ao Marão de olhos postos na Aboboreira, atravessada por um Rio Ovelha e um Rio Carneiro que vão recortando as suas margens e desenhando ora suaves, ora pujantes quedas de água - dois amores que abraçam e rodeiam com seus braços uma terra fértil, de riqueza agrícola incontestável que se vai projetando nos ritmos das vinhas e lembrando-nos, diariamente, da aproximação física tão benéfica ao Douro Vinhateiro, Património Mundial da Humanidade.
Para lá da paisagem natural, surge-nos a paisagem construída sobrevivendo às custas dos seus extremos, ora em pequenas concentrações, ora dispersando-se no horizonte. Ora de caminhos difíceis, ora de aliviados acessos. Aqui se identificam equipamentos de várias escalas, atualmente devolutos, ou em vias disso, com preponderância arquitetónica e oferta de mais valias funcionais e multidisciplinares. Gondar encontra-se estrategicamente colocada em termos rodoviários, podendo e devendo beneficiar em larga escala desta vantagem infra estrutural, quer através das estradas nacionais EN15 e EN101, quer através do itinerário principal IP4 e autoestrada do Marão A4.
Mas Gondar é também vítima da conjetura económica e social atual. Vítima da desertificação, do abandono, da diminuição da taxa de natalidade, do envelhecimento, do desemprego, da ausência de políticas sustentáveis,  da incapacidade de ordenação do território, de uma especulação imobiliária ridícula, vítima, enfim, dos mesmos problemas que atravessam, transversalmente, todo o país.
Mais do que nunca é essencial e obrigatório repensar novas estratégias sustentáveis e estruturais capazes de darem uma resposta real e séria aos nossos problemas. Longe vãos os tempos do despesismo, do exagero. Vivemos em tempos de poupança que começam na nossa casa, através de uma economia doméstica regrada: já não se deitam ao lixo as calças rasgadas, agora remendam-se e as velhas cotoveleiras regressaram à moda, também não deitamos no lixo as peúgas com buracos, mas repetimos o sábio conselho de enfiarmos lâmpadas pela meia, para termos volume suficiente para coser, já não se deitam ao lixo os restos do almoço, agora fazemos extraordinários soufflés e quiches ao jantar, nos nossos pequenos metros quadrados de terra já não se vê relva, mas sim glamorosas pequenas e multicolores hortas. Em nossa casa não se desperdiça, tudo se aproveita, tudo se readapta.
A nossa politica doméstica deve atravessar a fronteira da soleira e deve assumir uma escala ao nível local. Está na hora de revalorizarmos os nossos espaços existentes. Requalificarmos o nosso património seja ele natural, seja ele construído. Temos, felizmente, condições físicas para isso, agora cabe a cada um de nós garantir a vontade politica para isso.
Somos Gondar. Somos Legado.

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